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A Grande Quaresma e a Cicatrização das Nossas Feridas



Era uma vez uma mulher que teve um sonho. Em seu sonho, ela estava desapontada, desiludida e deprimida. Ela queria um mundo melhor, um mundo de paz, e ela queria ser uma boa pessoa.  Mas o jornal e a televisão lhe mostrava quão longe estávamos de tal realidade. Então, ela decidiu ir às compras.



Ela foi ao shopping e entrou em uma loja nova. Nesta loja havia uma pessoa atrás do balcão, e a mulher achou o homem muito semelhante a Jesus. Ela reuniu coragem, foi até ao balcão e perguntou:



"Você é Jesus?". "Sim, Eu sou", respondeu o homem.  "Você trabalha aqui?" Perguntou a mulher.



"Na verdade", respondeu Jesus: "Eu sou o dono da loja. E você pode ficar a vontade para ver tudo, ver aquilo que eu vendo, e depois pode fazer uma lista do que você quer. Quando tiver terminado, venha até a Mim e vamos ver o que podemos fazer por você".



Então, a mulher fez exatamente isso. E o que ela viu como produtos da loja a deixaram muito emocionada. Havia paz na terra, fim das guerras, da fome e pobreza, havia paz nas famílias, fim das drogas, harmonia, purificação do ar, dos mares e dos campos.



Ela olhava os itens e os anotava de forma entusiasmada na lista, e depois de anotar tudo, se aproximou do balcão, entregando uma lista enorme a Jesus. Ele leu toda a longa lista e sorrindo para ela disse: “Não tem problema”.



Voltou-se então para ela e colocou uma série de pequenos pacotes em cima do balcão. Confusa, a mulher perguntou: "O que são esses pacotes?" E Jesus respondeu: "Estes são os pacotes com as sementes. Como você pode ver, essa é uma loja de catálogo". Surpreendida e frustrada a mulher questionou:  "Quer dizer que eu não vou receber o produto acabado?”.



"Não", Jesus respondeu suavemente. "Este é um lugar dos sonhos. Você chega e vê o que deseja, e eu lhe dou as sementes. Então você planta as sementes. Você vai para casa e cuida delas, as ajuda a crescer e alguém depois colhe os benefícios".



Após estas palavras, a mulher acordou.



A Grande Quaresma pode ser compreendida como sendo um "campo dos sonhos", onde nós somos apresentados para uma visão do produto final (que no caso é o Céu), mas as sementes devem ser plantadas para que venhamos a chegar lá.



Se há uma semente que é a maior e mais benéfica, esta é a semente do amor.



São Tiago escreve em sua Epístola: "Todavia, se cumprirdes, conforme a Escritura, a lei real: Amarás a teu próximo como a ti mesmo, bem fazeis. Mas, se fazeis acepção de pessoas, cometeis pecado, e sois redarguidos pela lei como transgressores" (Tiago 2:8-9).



São Tiago sabia que para o ensinamento de Cristo sobre o amor pudesse ser compreendido de forma correta, ele deveria ser universal. Os "ricos" e os "pobres" devem ser amados da  mesma maneira. Cada pessoa deve ser amada independentemente de qualquer caracterização.



A semeadura deste amor é também considerada como sendo uma "escola do arrependimento", pois inevitavelmente nos leva a plantar sementes em lugares aos quais nunca pensaríamos em fazer. Aqueles que nos são caros e aqueles que são considerados inimigos são todos jardins merecedores de amor.



Uma das lições mais difíceis da vida espiritual é ensinada por aqueles que nos insultam e nos ofendem. Deus permite e por vezes mesmo envia tais indivíduos para nós, e esses podem nos levar ao céu ou ao inferno, dependendo da nossa resposta. Como São João Crisóstomo disse: "Com os desafios vem a oportunidade para se conquistar os prêmios."



A Grande Quaresma começa com o Domingo do Perdão,  e termina com a Divina Liturgia da Páscoa, com um apelo final para que amemos um aos outros, para que então possamos juntos proclamar: “Cristo Ressuscitou dentre os mortos!”



A semente do perdão nos é dada com a compreensão de que o Evangelho nos obriga a amar os outros da mesma maneira que nós amamos a nós mesmos.



São João Crisóstomo pediu a sua congregação para refletir sobre a maneira como amamos a nós mesmos:



"Nós não invejamos a nós mesmos; nós desejamos tudo de bom, todas as coisas para nós mesmos, damos a nós a preferência antes de tudo, nós estamos sempre dispostos a fazer todas as coisas para nós mesmos. Se também aplicássemos esta disposição em relação aos outros, todas as coisas ruins deste mundo seriam findadas, pois  não haveria inimizade, não haveria a cobiça, pois todos optariam por tirar o melhor de si mesmo para dar ao outro, e assim nenhuma pessoa estaria em desacordo com a outra. E se fizéssemos assim, a lembrança das nossas feridas não teria lugar, pois qual sentido haveria de lembrar das feridas que somente nós teríamos feito a nós mesmos? Quem escolheria  machucar a si mesmo?".



Somos convocados a empregar o mesmo padrão que aplicamos para conosco, quando lidamos com os outros. E a maneira de plantarmos esta semente é reconhecer que todos nós temos feridas. Somos todos feridos pelo pecado. Se não fosse assim, Cristo não  teria vindo e nos salvado na Cruz. Se não fôssemos todos feridos pelo pecado, nós todos nos daríamos bem, não haveria discordâncias, contendas, ou divisões entre nós.



Conhecer as “feridas” dos demais é uma parte importante para se alcançar o sonho de perfeição, unidade, perdão e amor. Pois se quisermos ver este sonho tornar-se uma realidade, devemos fazer com que este seja um objetivo comum para todos.



O que sempre surge como um mortal obstáculo para as sociedades humanas, é que os indivíduos feridos se dividem em duas categorias: Aqueles que desejam ser curados e  aqueles que desejam curar a todos os demais, sem, no entanto, reconhecer as próprias feridas.



Aqueles que desejam curar a todos devem, antes de tudo, começar com o tratamento de si mesmos: "E por que reparas tu no argueiro que está no olho do teu irmão, e não vês a trave que está no teu olho? Ou como dirás a teu irmão: Deixa-me tirar o argueiro do teu olho, estando uma trave no teu?" (Mateus 7:3-4).



O processo de remoção dessas traves que nos cegam, deve ser instituído através da humildade e no clamor que diz:  "Eu não posso ver meus pecados, eu não sei, Deus mostre-me os meus pecados!".



É assim que removeremos as nossas muitas traves. E nós não podemos mesmo fazer isso sozinhos.



A automedicação é algo para se evitar nessa e em outras tantas questões.  A orientação de um Pai Espiritual é importante, mas se torna um mecanismo perigoso se tratamos de evitar aqueles orientadores aos quais temos medo que nos digam a verdade. Quando é assim acabamos por nos submeter ao nosso próprio juízo, para que depois disso venhamos a nos apresentar para o Sacerdote.



O sacerdote é ele próprio um "curador ferido", que não julga, mas oferece o tratamento medicinal extraído de sua própria experiência pessoal de busca pela cura.



Ambos são pecadores arrependidos, que devem comparecer diante de Deus.



A Confissão é o momento em que nos colocamos, de forma voluntária, perante Deus apresentando nossos pecados e arrependimento. E isso é uma antecipação do que será o momento final. O objetivo desse encontro é a cicatrização de nossas feridas.



Os cristãos que estão em processo de cura, buscam se  libertar dos comportamentos negativos, muitas vezes caracterizados por hábitos comportamentais destrutivos (paixões).



Alegria e felicidade são o que as pessoas mais desejam na vida. Mas a alegria que vem do poço profundo do amor de Deus é a mais poderosa experiência que um ser humano pode ter. Ela levanta-nos acima da lama de um mundo que está cheio de consequências do pecado.



Cristãos no processo de cura não devem ter nenhum medo sobre os males da sociedade, porque Cristo vai superar a todos. Sua graça modifica vidas, e o Espírito Santo  traz luz à escuridão que nos cerca. Sabemos que isso é a pura verdade, porque nós temos experimentado essa verdade pessoalmente.



Os cristãos que evitam a cura só conseguem ver tristeza, desespero, escuridão e, consequentemente, negam o poder de Deus em razão de suas visões de mundo.



Nós cristãos, em nosso processo de cicatrização, nos permitimos ver a esperança, bondade e o amor de Deus, derramado para ofuscar a escuridão no mundo.


O amor de Deus está ao nosso redor, e é o que inspira os nossos sonhos por um mundo perfeito e é o dom da Igreja, que é o paraíso na terra.



Que os nossos sonhos de ter uma vida espiritual aperfeiçoada nos forneça todas as sementes necessárias para que sejamos capazes de fazer isso acontecer.




 Presbítero Andrew Barakos





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Pároco da paróquia Axion Estin em Sorocaba e,responsavel pela igreja GOC no Brasil, missionário da comunidade São João Maximovich em Curitiba.

"Sou um sacerdote ortodoxo e busco fiéis comprometidos com a Santa Fé, livres das heresias propagadas por aqueles que a desconhecem ou a deturpam intencionalmente. Como membro da Genuína Igreja Ortodoxa da Grécia, preservamos  fielmente a Santa Tradição e os Santos Cânones, incluindo as decisões dos Santos Concílios que anatematizam as alterações no calendário litúrgico. Seguimos a determinação do Concílio de Niceia sobre o Menaion e o Pascalion, bem como as resoluções dos Concílios Pan-Ortodoxos de 1583, 1587, 1593 e 1848."

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