Relacionando-se com familiares não ortodoxos como um verdadeiro teste da Ortodoxia
- Paróquia Axion Estin
- 3 de abr.
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Por Dr. Jonathan Gress
Criado em terça-feira, 05 de julho de 2011, às 14:02
“Honra teu pai e tua mãe, para que teus dias sejam prolongados na terra que o SENHOR teu Deus te dá.” – Êxodo 20:12
“Se alguém vier a mim e não odiar seu pai, mãe, mulher, filhos, irmãos, irmãs, e até mesmo a sua própria vida, não pode ser meu discípulo.” – Lucas 14:26.
Ter familiares não ortodoxos, especialmente quando se é o único membro ortodoxo devido a uma conversão pessoal, pode ser uma verdadeira provação e um teste de fé. No entanto, também é uma oportunidade concedida por Deus para testemunhar Cristo e a Igreja e para conquistar novos convertidos, desde que se saiba como usar essa oportunidade. A Ortodoxia não exige que abandonemos nossos relacionamentos com parentes não ortodoxos e, certamente, não nos isenta de nossas obrigações naturais para com eles. No entanto, exige que coloquemos Deus e a Igreja em primeiro lugar sempre que houver um conflito entre as exigências da família e as exigências da nossa fé.
A facilidade ou dificuldade em lidar com familiares não ortodoxos depende de vários fatores: se você ainda mora com eles, o grau de dependência financeira que tem da família e o histórico religioso e status social deles. Se sua família for protestante evangélica, provavelmente não haverá grandes diferenças em questões morais, mas sim em questões doutrinárias. Se forem agnósticos, por outro lado, poderão se importar menos com a doutrina ortodoxa sobre as imagens sagradas e mais com a nossa postura rígida contra o aborto. Se você vive de forma independente, os desafios podem surgir apenas em visitas ocasionais ou em feriados familiares, como o Dia de Ação de Graças. No entanto, se você for jovem e ainda morar com sua família, a pressão para se conformar ao estilo de vida não ortodoxo deles será consideravelmente mais forte e exigirá maior determinação pessoal e apoio do seu pai espiritual e da Igreja.
Se você mora com uma família não ortodoxa, os desafios mais significativos podem incluir cumprir diligentemente sua regra de oração, observar os jejuns prescritos, defender a fé em conversas e conduzir-se de uma maneira condizente com os cristãos ortodoxos durante discussões e disputas familiares. Outras provações que podem surgir, mesmo que você não more com parentes não ortodoxos, incluem situações em que eles pedem ou exigem que você participe de cultos heterodoxos ou de eventos familiares quando você tem a obrigação de estar na igreja para a Divina Liturgia. Em todas essas coisas, você deve aprender a equilibrar os dois mandamentos de Deus mencionados acima.
Mantendo sua regra de oração
“Mas tu, quando orares, entra no teu quarto e, fechando a porta, ora a teu Pai que está em secreto; e teu Pai, que vê em secreto, te recompensará publicamente.”
– Mateus 6:6
Como seu pai espiritual provavelmente lhe disse, manter a regra diária de oração é, provavelmente, o dever mais importante do cristão ortodoxo. A oração diária, assim como a leitura espiritual, é de onde obtemos a força concedida por Deus para nos comportarmos como verdadeiros cristãos ortodoxos em todos os nossos esforços. Quando se vive sozinho ou, se casado na Igreja, na companhia de sua própria família ortodoxa, geralmente há poucas razões, além da negligência, para abandonar a regra de oração. Mas se, por qualquer motivo, você se encontrar morando na casa de parentes não ortodoxos, às vezes poderá enfrentar uma pressão sutil, ou nem tão sutil, para abandonar a observância da regra. É importante resistir a essa pressão para abandonar a oração regular e, em vez disso, concentrar-se em dissipar qualquer tensão que possa surgir dela por outros meios, se possível.
Por exemplo, se você precisa compartilhar um quarto com um parente, como um irmão, ou talvez um cônjuge não ortodoxo, pode ser particularmente difícil tratar o quarto como seu espaço especial de oração e intimidade com Deus, conforme nossa fé encoraja e, de fato, exige. Nessas circunstâncias, como você pode observar este mandamento de nosso Senhor Cristo mencionado acima?
Em primeiro lugar, não há mal algum em perguntar ao seu companheiro de quarto se está tudo bem usar o quarto em determinados horários para a oração, e até mesmo manter um canto de ícones e uma lamparina votiva (se for sua residência permanente). Não é pecado deixar sua família saber que você reza regularmente; o que é pecado é ser deliberadamente exibicionista em sua oração para ganhar admiração ou atenção. Se seu companheiro de quarto recusar, você pode encontrar outro lugar para orar, mas peça a Deus que mude o coração dele e saiba que isso pode ser um sinal para você começar a fazer planos para morar sozinho.
Se membros da sua família forem rudes em relação aos seus hábitos de oração, mesmo que você tenha sido o mais discreto possível, faça o seu melhor para ignorar tais comentários. Provocações desse tipo vêm do Diabo e devem ser enfrentadas com silêncio. Mais uma vez, isso pode ser um sinal de que você deve se mudar para evitar a tentação de abandonar sua oração e até mesmo sua fé. Esse tipo de atrito também pode surgir ao rezar antes e depois das refeições e ao fazer o sinal da cruz. Você deve deixar claro que essa é uma obrigação para você e que, se eles se sentirem ofendidos pelo sinal da cruz, você terá que fazer suas refeições separadamente. Nessas circunstâncias, é bom lembrar que a perseguição, mesmo em formas tão brandas, é uma bênção, desde que você a aceite sem reclamar.
Em todas essas questões, certifique-se de consultar seu pai espiritual. É fundamental que você nunca tenha vergonha de explicar seus problemas específicos ao seu confessor, não apenas porque os conselhos gerais oferecidos aqui não podem cobrir todas as situações, mas também porque as instruções autoritativas de seu próprio sacerdote ou bispo podem lhe dar força para suportar as provações de uma maneira que um ensaio leigo como este nunca poderia fazer.
Observando os jejuns:
“E, quando jejuardes, não vos mostreis contristados como os hipócritas, porque desfiguram seus rostos para que pareça aos homens que jejuam. Em verdade vos digo que já receberam a sua recompensa.” – Mateus 6:16
Isso tem um potencial maior para atritos, uma vez que disputas sobre o jejum podem ocorrer tanto quando você mora com familiares não ortodoxos quanto quando apenas os visita durante um período de jejum, por exemplo, no Natal ocidental. Nesta questão, a consulta com seu pai espiritual é especialmente recomendada, pois algumas circunstâncias podem justificar um relaxamento parcial ou completo das regras alimentares, mas somente o pai espiritual pode autorizar tal relaxamento. Se nenhuma autorização for concedida, você é obrigado a seguir as regras com todo o seu rigor, independentemente da situação em que se encontre.
Assim como na oração, você tem o dever de jejuar, mas, ao mesmo tempo, não deve anunciar seu jejum desnecessariamente. Isso não significa que você deva mantê-lo um segredo absoluto: por exemplo, recusar um prato que contenha carne ou laticínios é muito mais provável de ofender quem preparou a refeição se nenhuma explicação for dada, do que se você explicar antecipadamente que a Igreja proibiu tais alimentos naquele período. Significa, no entanto, que você não deve fazer uma exibição exagerada disso e, certamente, não deve julgar sua família por não seguir as regras. O jejum é uma obrigação apenas para os cristãos ortodoxos.
Os membros da família podem insistir para que você relaxe o jejum por vários motivos, alguns dos quais podem até parecer razoáveis, como apreciar a comida preparada por sua mãe ou evitar deixar os demais familiares desconfortáveis. De modo geral, de fato, não é justo esperar que quem cozinha para a família prepare alimentos de jejum além dos alimentos normais apenas para atender a você; pelo menos ofereça-se para preparar sua própria comida de jejum. Se a pessoa responsável pela cozinha estiver disposta a preparar comida de jejum para você, no entanto, certifique-se de que ela conheça as regras. Se, apesar disso, você acabar sendo servido com um prato que não segue todas as exigências, por exemplo, um prato contendo laticínios, mas sem carne, provavelmente, nesse caso, é melhor comer o que foi servido em vez de causar problemas, já que você já fez tudo o que podia para garantir uma refeição adequada ao jejum (embora seja bom informar discretamente o cozinheiro sobre o erro depois e mencionar o ocorrido na confissão).
O desconforto dos outros membros da família é uma questão diferente. No geral, esses não são motivos adequados para abandonar os jejuns, assim como o desconforto da sua família em relação à sua regra de oração não é uma justificativa para abandoná-la. Se seu jejum os incomoda, diga-lhes que você está disposto a fazer suas refeições separadamente, mas não a quebrar o jejum. Se disserem que você deve agradar sua mãe ou seu pai, que prepararam uma refeição especial, diga-lhes que deve agradar a Deus acima de tudo. Ao lidar com sua família não ortodoxa, você deve estar preparado para ser firme em certos momentos e deixar claro para seus parentes que, embora os coloque acima de si mesmo, coloca Cristo e Sua Igreja acima de tudo.
Defendendo sua fé :
“Antes, santificai ao Senhor Deus em vossos corações; e estai sempre preparados para responder com mansidão e temor a qualquer que vos pedir a razão da esperança que há em vós.” – 1 Pedro 3:15
A conversa sobre a Ortodoxia é uma das melhores oportunidades para informar seus parentes não ortodoxos e até mesmo persuadi-los sobre a verdade da nossa fé, mas também pode se tornar um verdadeiro campo de destruição. Enquanto alguns parentes podem ser simpáticos à sua escolha, ou pelo menos tolerantes, outros podem ser frios e até mesmo agressivamente hostis. O Diabo fará o possível para usar essa hostilidade para levá-lo a perder a paciência e cair no pecado de julgar seu próximo—neste caso, sua própria família—o que resultaria no fracasso do seu testemunho pela Verdade. Em todos os momentos, você deve equilibrar o zelo pela verdade com um amor inabalável por aqueles de sua família que ainda não a aceitaram.
A discrição é o melhor princípio. Não traga o tema da Ortodoxia à tona sem necessidade, pois, muitas vezes, o Diabo nos incita a fazer isso para provocar uma discussão. Em vez disso, proclame sua fé mais por meio de suas ações do que por palavras. Ofereça ajuda com as tarefas domésticas sempre que houver oportunidade, pergunte como cada membro da sua família está e demonstre que se importa com eles. Faça favores sempre que puder. Naturalmente, esse comportamento é esperado de qualquer membro da família, seja ele ortodoxo ou não, mas, sendo ortodoxo, você tem uma obrigação ainda maior de praticar esse tipo de caridade. Você tem o dever de proclamar e viver o ensinamento da Igreja de que devemos colocar o próximo acima de nós mesmos, ainda que coloquemos Deus acima de tudo.
Às vezes, essa caridade pode levá-lo a situações difíceis, como quando um parente pede ajuda financeira para realizar alguma ação imoral ou manter um estilo de vida contrário aos mandamentos de Deus. Nessas situações, suas obrigações em relação ao bem-estar espiritual do seu próximo, especialmente da sua família, entram em jogo. De modo geral, você tem o dever de perguntar para que sua ajuda está sendo solicitada e, se descobrir que o auxílio será usado para algo proibido pela lei de Deus, deve deixar claro que a ajuda está condicionada ao abandono dessa conduta imoral. Observe que, em geral, não importa se seu parente concorda ou não que sua conduta seja errada, como no caso de um pequeno roubo que ele considere insignificante. Nesses casos, é irrelevante o que ele pensa; o que importa é que você sabe que aquilo é imoral e não pode, em boa consciência, apoiar tal ato. Há momentos em que o bem-estar material deve ser subordinado ao bem-estar espiritual, e isso se aplica não apenas a nós mesmos, mas também àqueles que dependem de nós e por quem devemos prestar contas diante de Deus.
Cuidar do bem-estar espiritual de nossos parentes, naturalmente, também envolve, em certas ocasiões, explicar ou defender os ensinamentos da Ortodoxia. Como mencionado anteriormente, tente evitar trazer à tona questões dogmáticas a menos que seja especificamente perguntado sobre elas ou que perceba que sua fé está sendo atacada—nesse caso, você tem o dever de defendê-la. Há uma razão pela qual a Igreja tradicionalmente atribui a instrução dogmática a um catecumenato organizado. Se um parente perguntar sobre a fé, então é o momento certo para explicá-la da melhor maneira possível. Caso contrário, guarde sua vontade de discutir doutrina para conversas com outros cristãos ortodoxos, ou seja, sua família espiritual.
Se um membro da família começar a atacar a Igreja, isso se torna um verdadeiro teste tanto para o seu zelo quanto para o seu amor. Se puder, explique com calma por que seu parente está equivocado sobre os ensinamentos da Igreja. Se perceber que não consegue responder de imediato às objeções dele, não ceda no argumento, mas diga que buscará a resposta e voltará ao assunto mais tarde. Mesmo que nem sempre conheçamos as justificativas racionais para os dogmas da Igreja, ainda assim temos a obrigação de nos manter firmes neles, aconteça o que acontecer. Além disso, devemos nos empenhar constantemente em aprender sobre a fé, não apenas para responder às nossas próprias dúvidas, mas também às dos não ortodoxos.
Seja como for, resista à tentação de responder com ataques pessoais. Se perceber que está se exaltando, provavelmente é o momento de encerrar a conversa, dizendo que ficará feliz em retomá-la mais tarde, depois de ter refletido melhor. Embora alguns santos tenham demonstrado uma justa ira diante da heresia—como quando São Nicolau esbofeteou Ário no Primeiro Concílio Ecumênico—, devemos reconhecer que a maioria de nós ainda não atingiu esse nível de santidade e qualquer início de ira em nossos corações é quase certamente uma tentação diabólica. Nosso zelo para defender a fé é correto; nossa raiva contra a família, não. E lembre-se: Deus não precisa que O defendamos; somos apenas instrumentos de Seu plano.
Por fim, pratique a temperança em todas as coisas, seja na alimentação, na bebida ou no discurso. Evite conversas imorais e não participe de atividades ou entretenimentos familiares que sejam contrários à fé. Se seus parentes têm o hábito de se embriagar durante uma celebração, é melhor não participar, caso saiba que isso costuma acontecer. Seja honesto sobre sua relutância em participar e não permita que o pressionem a adotar comportamentos não cristãos. Se, apesar de seus esforços, acabar em má companhia, mantenha-se moderado e explique depois por que não poderá mais participar dessas atividades no futuro.
Disputas familiares
“Aquele que poupa a vara odeia seu filho, mas aquele que o ama castiga-o cedo.”
– Provérbios 13:24
A atitude a ser tomada em disputas e desentendimentos familiares depende muito de nossa posição dentro da família. Em relação aos nossos pais naturais, ainda temos obrigações de obediência para com eles, desde que essas obrigações não entrem em conflito com nossos deveres para com Cristo e a Igreja. Com relação aos nossos filhos, continuamos a ter deveres de responsabilidade, e, em outros relacionamentos, como entre irmãos ou entre um cônjuge ortodoxo e um não ortodoxo, a conversão à Verdade não anula os deveres que temos para com nossos parentes segundo a carne.
Como discutimos anteriormente, a lealdade familiar é algo completamente natural, o que torna ainda mais importante que a honremos como cristãos ortodoxos. No entanto, lealdade familiar não significa apoiar nossos parentes em qualquer ação que pratiquem, sem considerar as consequências morais. Algumas obrigações são restritas aos membros da Igreja, como a observância de uma regra diária de oração ou o cumprimento dos jejuns prescritos. Outras obrigações morais, porém, são universais e aplicáveis a todos os seres humanos, como a justiça, a honestidade e a castidade. Se um parente estiver envolvido em alguma ofensa moral, não a apoie, seja por meio de ajuda material ou de aprovação verbal. Isso inclui atos que seu parente não ortodoxo pode não reconhecer como imorais, como coabitar com um parceiro sem casamento ou praticar jogos de azar. Além disso, nunca apoie sua família em qualquer comportamento ilegal, lembrando, no entanto, que nem tudo o que é legal é moral, nem tudo o que é moral é legal.
Se você estiver pessoalmente envolvido em uma disputa, aja como cristão e ceda seus direitos, por mais difícil que isso possa ser. Situações desse tipo ocorrem com frequência, como brigas sobre quem deveria ter limpado o banheiro ou disputas pela divisão de uma herança. Se, por outro lado, a disputa for uma questão de princípio—por exemplo, uma exigência para que você apoie um parente em algum empreendimento imoral—, então você deve se manter firme e aceitar as consequências. Naturalmente, se você se vir no meio de um conflito, evite ataques pessoais e linguagem excessivamente dura. E se perceber que a raiva começa a surgir dentro de você, retire-se da conversa antes que ela se agrave.
Provavelmente uma palavra especial deve ser dita sobre o relacionamento com parentes não ortodoxos divorciados. A Igreja tem regras particularmente rigorosas sobre o divórcio: ele é proibido, exceto nos casos de fornicação e abandono. No mundo secular, no entanto, o divórcio é extremamente comum, e muitos que ingressam na Igreja terão parentes divorciados e precisarão de orientação sobre como tratá-los. Este autor acredita que tal rigor se aplica apenas aos cristãos ortodoxos e que um ortodoxo deve apoiar qualquer parente não ortodoxo que seja legalmente casado, independentemente de quantos divórcios tenha tido ou das razões para esses divórcios. Afinal, durante o casamento, os cônjuges fizeram promessas solenes de permanecer juntos até a morte, conforme ordenado por Deus. Com a crescente legalização do casamento “entre pessoas do mesmo sexo”, no entanto, uma linha provavelmente deve ser traçada, já que tal legalização não nega a imoralidade essencial dos relacionamentos homossexuais.
Participação em cultos heterodoxos
“Se algum clérigo ou leigo entrar em uma sinagoga de judeus ou em um templo de hereges para orar, seja ele deposto e excomungado.” – Cânon Apostólico LXV
Muitos convertidos vêm de famílias que praticam outra forma de cristianismo ou até mesmo religiões não cristãs. Assim, é comum enfrentarem pressão para participar de cultos heterodoxos “por consideração à família”, especialmente em feriados, casamentos e funerais. Essa pressão deve ser firmemente resistida, embora em cada caso seja sempre recomendável buscar a orientação do pai espiritual. Afinal, é impossível professar a exclusividade da Ortodoxia como única Verdade e, ao mesmo tempo, contradizê-la participando de orações com não-crentes e hereges.
Os parentes podem reagir com hostilidade diante dessa recusa, mesmo que você a expresse educadamente. Muitas vezes, eles farão perguntas provocativas, como: “Então, você acredita que sou um herege e que vou para o inferno?” A resposta correta é: “Sim, você é um herege, mas não sei se você vai para o inferno.” Deve-se também explicar que a Igreja é a única Arca da Salvação. No entanto, o fato de a Igreja ser o único caminho para a salvação não significa que saibamos o destino final daqueles que morrem fora dela. No último dia, Deus julgará cada um segundo sua consciência. Essa resposta é suficiente para essas situações.
Em eventos importantes como casamentos e funerais, a ausência pode ser malvista. Se seu pai espiritual permitir, você pode comparecer às cerimônias, mas deve evitar participar ativamente do culto ou das orações. Caso não tenha a bênção do pai espiritual, explique educadamente à sua família o motivo da Igreja proibir sua participação nos elementos religiosos da cerimônia. Como alternativa, pode-se considerar comparecer apenas à recepção do casamento ou ao velório após o funeral, como forma de demonstrar respeito pela família sem comprometer a fé.
Este tema está intimamente ligado à questão de faltar à Divina Liturgia por conta de algum evento familiar. Assim como perder a Liturgia por motivos de trabalho ou outras obrigações, deve-se buscar permissão do pai espiritual. Se essa permissão não for concedida, é necessário explicar novamente seus compromissos prévios com a Igreja de maneira amorosa, porém firme. Qualquer animosidade pessoal dirigida a você por essa razão deve ser enfrentada como qualquer outro ataque pessoal: com silêncio e paciência.
Nosso testemunho de Cristo:
“Assim resplandeça a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai, que está nos céus.” – Mateus 5:16
Ser ortodoxo entre parentes não ortodoxos pode parecer uma responsabilidade verdadeiramente assustadora. Sua família o observará e formará juízos gerais sobre a Ortodoxia com base no seu comportamento. Se você não agir de maneira condizente com um cristão ortodoxo, eles podem acabar com a impressão de que sua fé é uma farsa, significando não apenas que você, pessoalmente, é um hipócrita, mas também que a Ortodoxia em si é fútil. Por outro lado, se você conseguir, em grande parte, seguir os mandamentos, pode acabar caindo no orgulho, algo que sua família perceberá, levando-os a considerar os ortodoxos hipócritas.
É claro que nenhum de nós é perfeito e pode parecer uma tarefa impossível cumprir o mandamento de Cristo acima e “resplandecer diante dos homens”. No entanto, lidamos com isso da mesma forma que lidamos com nossas falhas em geral: reconhecendo-as, confessando-as e lutando para melhorar. Se você ofender um de seus parentes, ele pode pensar que sua Ortodoxia não faz diferença alguma. Mas se você buscar o perdão na primeira oportunidade e fizer isso todas as vezes que ofender alguém, então seu parente verá algo extraordinário em nossa fé e no que ela ensina. Com parentes não ortodoxos, acima de tudo, a tradição de “não deixar o sol se pôr sobre a sua ira” deve ser levada especialmente a sério.
No entanto, embora você deva estar especialmente disposto a perdoar ofensas pessoais, deve ser igualmente zeloso na defesa de sua fé. Não faça concessões, nem mesmo em pequenos detalhes, como persignar-se antes das refeições, observar os jejuns, seguir sua regra diária de oração ou assistir à Divina Liturgia todos os domingos e dias festivos. Como vimos acima, seu comportamento será a melhor catequese para sua família. Comentários rudes devem receber a resposta que merecem: o silêncio.
Tudo isso exige grande força espiritual, que só pode vir de uma vida de oração e jejum, ou seja, da consciência constante da presença de Deus e de nossas próprias fraquezas. Faça suas orações, vá à igreja e mantenha uma rotina regular de leitura espiritual. Ao mesmo tempo, trabalhe com diligência, dedique-se aos seus hobbies e não negligencie sua vida social, desde que tudo esteja sujeito à moderação cristã. Um cristão é, acima de tudo, uma pessoa normal, e, a verdadeira missão, é mostrar aos seus parentes não ortodoxos que a verdadeira normalidade só é alcançável na Igreja.





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