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Convertidos: A Necessidade de Conquistar a Mentalidade Ortodoxa

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Cada cultura tem a sua "linguagem" própria, a sua própria mentalidade, o seu "idioma" próprio se você preferir. A Ortodoxia também tem a sua "linguagem" própria, que pode ser expressa em muitas "línguas" diferentes.


Algumas pessoas parecem ter uma maior facilidade do que outras para aprender esta linguagem. E tal facilidade não tem nada a ver com a capacidade linguística. Pelo contrário, essa habilidade requer humildade e obediência, é, portanto, uma questão de coração.


Inevitavelmente, aqueles de nós que  se converteram, carregamos conosco  a nossa "bagagem", que é constituída da nossa velha maneira de pensar e entender as coisas. Nós então crescemos com uma "linguagem", advinda de uma cultura religiosa diferente, seja protestante, católica romana, judia, humanista, ou alguma outra.


E não será possível compreender a plenitude da fé ortodoxa, continuando a usar uma diferente "linguagem". Portanto, nós devemos mudar a nossa maneira de pensar, pois será necessário adquirir a mentalidade da Igreja (algo que também já foi chamado de a mentalidade de Cristo, ou a mentalidade dos Padres).


E é claro, tal processo não se realiza durante uma noite, pois é um processo longo, como seria para aprender uma língua estrangeira, e o progresso é gradual e vai requerer um grande esforço. Aqueles de nós que não foram criados na Igreja e que não adquiriram uma visão ortodoxa quando ainda crianças, devem substituir a nossa velha maneira de pensar, a nossa velha maneira de expressar idéias cristãs e  substituir esta "linguagem" antiga pela "linguagem" da Ortodoxia. Alguns de vocês leitores vão dizer: "Eu tenho feito isso. Eu uso palavras como "Theotokos", e “Liturgia” em vez de “missa”, e "mistérios" em vez de "sacramentos"... Contudo, esse não é o ponto. Não é uma questão de semântica. Estamos tratando aqui de uma profunda mudança de coração e de mentalidade.


Eu fui criado na tradição evangélica protestante. Então, se eu tentar entender a Fé Ortodoxa no contexto do cristianismo em que fui criado, esse entendimento será incompleto e defeituoso, porque os conceitos, as expressões, os significados são totalmente diferentes, ou mesmo não existiam da mesma forma.


Por exemplo, um protestante dirá, isso é "salvo", ou alguém "foi salvo", como quando uma pessoa aceita a Jesus Cristo como Deus e Salvador. Contudo, em um contexto ortodoxo, vamos sempre dizer que uma pessoa está em um processo de ser salvo (Teologia Dogmática Ortodoxa, p. 259), em um processo de trabalhar por sua salvação, com temor e tremor (Filipenses 2:12, uma passagem nunca citada por protestantes). “De sorte que, meus amados, assim como sempre obedecestes, não só na minha presença, mas muito mais agora na minha ausência, assim também operai a vossa salvação com temor e tremor”.


Ou ainda, os protestantes geralmente se referem aos crentes como "santos", e mesmo que isso seja verdadeiro no sentido em que é usado por São Paulo, dentro da tradição ortodoxa um "santo" é alguém digno de admiração e veneração, um modelo de perfeição cristã.


Para dar apenas mais outro exemplo, a palavra "ascético" e "ascetismo" são praticamente ausentes do vocabulário protestante, enquanto tais palavras estão no ABC da Ortodoxia. E essas distinções têm ramificações significativas.


Portanto, até que um convertido à Ortodoxia possa abandonar o seu entendimento anterior e concretizar o necessário reajuste de suas compreensões e nisso compreender os caminhos da Igreja, ele não será capaz de compreender mesmo as mais simples verdades espirituais.


Nos últimos anos tem havido um afluxo crescente de ex-protestantes na Igreja Ortodoxa. E tal notícia é motivo de regozijo. Mas existem perigos aqui. O catecismo é muitas vezes inadequado e muitas suposições são feitas sobre o nível de compreensão que estes novos convertidos têm da Fé, e tais suposições podem não ser tão precisas. As conversões muitas vezes resultam em apenas alterações dos hábitos externos, mas com pouca alteração do coração, e, em muitos casos, não há a real constatação de que tal mudança é necessária.


Então, externamente, esses convertidos podem ter se tornado ortodoxos (às vezes até com mais rigor do que aqueles ortodoxos educados na fé desde crianças): eles têm ícones, eles jejuam, eles se prostram, mas a mentalidade ainda é protestante, justamente em razão de não terem adquirido o pensamento da Igreja.


E mesmo que eles tenham mergulhado intelectualmente na Ortodoxia, isso ainda não é suficiente. O apóstolo Paulo escreve: “De sorte que haja em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus...” (Filipenses 2:5-11). Esta passagem é utilizada pela Igreja para ser lida em algumas festas da Mãe de Deus, ela que é o modelo de obediência e humildade cristã, indicando-nos que é precisamente essas virtudes que são a chave para a aquisição do pensamento da Igreja, a mentalidade de Cristo.


Pois então, primeiramente temos de ser obedientes, e nisso adquirir a aparência externa, vestir o manto da Igreja por assim dizer, resistindo à tendência instituída pelo nosso orgulho, de rejeitar aquelas partes da mentalidade ortodoxa que nos sejam desconfortáveis, e as quais trataríamos de evitar desqualificando-as como se fossem simplesmente algo "étnico" que deve ser "adaptado".


Ao contrário, devemos humildemente conformar-nos com os contornos externos de nossa conversão, reconhecendo que esta é a veste de Cristo e dos Seus santos. Então, após assumirmos a mudança externa, temos de começar a efetuar a mudança interna, obedientemente submetendo a nossa mente e o nosso coração na direção da instrução da Igreja.


E esta opção está disponível para nós de muitas formas: na orientação de um pai espiritual experiente, no comparecimento aos Serviços da igreja, atenção aos escritos dos Santos Padres, na leitura atenta as vidas dos santos. E se nesta caminhada há algum aspecto da doutrina da Igreja ou de sua Tradição que não faz sentido para nós, devemos ser pacientes e humildes, e perceber que é o nosso entendimento que ainda é deficiente, não a Igreja.


No entanto, o mais importante meio de se adquirir o pensamento da Igreja é a oração. E neste novo processo de aprendizagem, é preciso aprender a rezar na "linguagem" da Igreja. O Apóstolo Paulo escreve, que não sabemos o que devemos orar como convém... (Rom. 8:26), e portanto, a Igreja nos dá as orações dos Santos, aqueles que dominam a arte da oração para nos guiar, para nos ajudar a desenvolver uma consciência Ortodoxa, uma disposição adequada de mente e coração. Aqui, novamente, não devemos confiar na nossa experiência heterodoxa.


Com cuidado atendendo às orações em nossos livros de orações e as orações públicas na Igreja, vamos sendo afastados da presunção do fariseu e assim caminhamos para a humildade e a compunção do publicano, e tal humildade e compunção salvará as nossas almas.


Cristão, é imperativo que você adquira a mentalidade da Igreja, mas para isso você deve abrir mão do seu orgulho, daquilo que você aprendeu e da sua experiência anterior fora da Igreja. Você precisa se tornar como uma criança.


Vamos começar pelo início, e  com humildade e obediência, seguindo a direção da Igreja, permita-se ser moldado à imagem de Cristo.




Presbítero David Moser.

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Pároco da paróquia Axion Estin em Sorocaba e, responsável pela igreja GOC no Brasil, missionário da comunidade São João Maximovich em Curitiba e da Paroquia Nossa Senhora da Proteção na Pedreira -São Paulo SP.

"Sou um sacerdote ortodoxo e busco fiéis comprometidos com a Santa Fé, livres das heresias propagadas por aqueles que a desconhecem ou a deturpam intencionalmente. Como membro da Genuína Igreja Ortodoxa da Grécia, preservamos  fielmente a Santa Tradição e os Santos Cânones, incluindo as decisões dos Santos Concílios que anatematizam as alterações no calendário litúrgico. Seguimos a determinação do Concílio de Niceia sobre o Menaion e o Pascalion, bem como as resoluções dos Concílios Pan-Ortodoxos de 1583, 1587, 1593 e 1848."

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