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Cortinas de Fumaça para a Heresia


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Por Pe. Maximus Marretta, do Mosteiro da Santa Ascensão, Bearsville, NY

 

Uma tática comum utilizada pelos hereges para desviar a atenção de sua própria heresia é apontar certos abusos entre os ortodoxos que estejam relacionados à controvérsia em questão. Esses abusos podem envolver tanto questões de prática quanto de linguagem teológica. Ao destacar as deficiências dos ortodoxos, eles podem reivindicar uma superioridade moral e fazer com que os ortodoxos pareçam hereges ou, pelo menos, equivocados. Usam esses abusos como pretexto para não aceitarem o ensinamento ortodoxo sobre determinado assunto.

Ao adotar essa tática, eles confundem os fiéis, fazendo com que suas próprias doutrinas heréticas pareçam mais corretas do que realmente são e, assim, levam muitos à perdição.

Essa tática, na linguagem moderna, é frequentemente chamada de introdução de um “red herring” (falsa pista), o que significa trazer à tona um assunto que, embora indiretamente relacionado ao tema principal, não aborda a questão central. Como um ensinamento herético é sempre falso e, portanto, possui uma lógica e um raciocínio mais fracos do que a verdade proclamada pela Igreja Ortodoxa, é sempre do interesse dos hereges introduzir o maior número possível de falsas pistas para desviar a atenção dos pontos fracos de sua própria argumentação.

A artimanha da falsa pista – ou, como se pode chamar, uma cortina de fumaça que disfarça o mal – é, em última instância, uma forma de argumentação psicológica e, portanto, inválida como lógica. Ao apelar para as emoções das pessoas, os hereges conseguem manter o debate em um nível totalmente superficial e evitar confrontar seu próprio raciocínio falho.

Recentemente, surgiu uma heresia chamada “Onomatolatria - Adoradores do Nome” (Name-Worshipping). Essa heresia recebe esse nome porque seus adeptos acreditam que o nome de Deus é o próprio Deus; ou seja, que Seu nome é uma energia divina e, portanto, incriada. Essa ideia absurda foi condenada pelo Sínodo de Constantinopla em 1913 e, no mesmo ano, pelo Sínodo Russo. Esses sínodos declararam herética a ideia de que o nome de Deus é uma energia de Deus ou o próprio Deus. Esse é o ponto central da heresia, do qual derivam todas as suas demais crenças desviantes.

O Sínodo Russo, no entanto, acrescentou alguns comentários próprios sobre as energias divinas e a divindade, utilizando uma terminologia um pouco diferente da maneira de expressão empregada por São Gregório Palamas (o maior expoente sobre o tema das energias divinas). A terminologia do Sínodo não era exatamente herética, mas carecia da clareza e precisão da exposição de São Gregório; isso, evidentemente, se deveu ao fato de que os bispos russos não estavam familiarizados com os escritos polêmicos do santo, que, na época, ainda não haviam sido amplamente traduzidos para o russo.

Os modernos adeptos da Onomatolatria aproveitaram-se dessa imprecisão terminológica e a transformaram em sua bandeira – ou melhor, em sua cortina de fumaça –, declarando que não podem aceitar o concílio russo porque este se opõe ao ensinamento de São Gregório Palamas. Ao fazer isso, perderam de vista a questão central: ainda que o Sínodo Russo tenha se expressado de maneira inadequada, a Onomatolatria continua sendo uma heresia. A condenação russa da Onomatolatria permanece válida em si mesma, mesmo que a terminologia utilizada em sua explicação posterior seja questionável.

Além disso, a heresia também foi condenada pelo Sínodo de Constantinopla, que não usou nenhuma terminologia duvidosa. No entanto, os adeptos da Onomatolatria também se recusam a reconhecer esse concílio. Fica claro, portanto, que sua motivação ao atacar a linguagem do Sínodo Russo não é uma preocupação piedosa com a precisão da expressão, mas sim o fato de que simplesmente não aceitam o ensinamento ortodoxo sobre o nome de Deus.

Neste ponto, deve estar claro que a rejeição dos adeptos da Onomatolatria ao ensinamento ortodoxo, baseada nos comentários feitos pelo Sínodo Russo, não passa de uma cortina de fumaça que utilizam para mascarar sua própria heresia. Ao agir assim, estão apenas seguindo o caminho já trilhado por muitos outros hereges. Examinemos algumas heresias e as cortinas de fumaça que lançaram para esconder e justificar seus falsos ensinamentos.

1.    A primeira grande heresia a perturbar a Igreja foi o arianismo. Os arianos negavam que Cristo era Deus e que o Filho era igual ao Pai. A Igreja Ortodoxa condenou o arianismo no Primeiro Concílio Ecumênico. A palavra-chave para explicar o ensinamento ortodoxo foi “consubstancial” – ou seja, o Filho é consubstancial, ou de uma só essência, com o Pai. No entanto, os arianos recusaram-se a aceitar esse termo, pois sabiam que aceitá-lo implicaria a rejeição de sua heresia. Para desviar a atenção do verdadeiro problema, argumentavam que a palavra “consubstancial” não se encontrava nas Escrituras e que havia sido usada originalmente em um sentido herético por Paulo de Samósata, um antigo herege que confundira as Pessoas do Pai e do Filho. Os arianos acusaram os ortodoxos de terem as mesmas tendências heréticas simplesmente porque utilizavam um termo que já fora empregado por um herege anterior, mesmo que os ortodoxos não lhe atribuíssem um significado herético.

2.    Os arianos também se recusaram a unir-se à Igreja Ortodoxa sob a alegação de que os ortodoxos estavam em comunhão com Marcelo de Antioquia, um bispo que se opunha fanaticamente ao arianismo a ponto de confundir as três Pessoas da Trindade. A maioria dos ortodoxos não percebia que a própria fé de Marcelo era questionável. Assim, os arianos criaram uma cortina de fumaça sobre seus próprios erros ao apontar os erros de Marcelo. No entanto, estavam apenas evitando a questão principal, que era o fato de que o arianismo em si era herético, e a existência de clérigos duvidosos entre os ortodoxos não mudava essa realidade.

3.    Os monofisitas foram uma heresia posterior que fundiu a humanidade e a divindade de Cristo a ponto de obscurecer Sua humanidade. Os monofisitas se recusaram a aceitar o Quarto Concílio Ecumênico, porque o concílio havia declarado como ortodoxo o Tomo de Leão, documento que eles consideravam nestoriano. Na realidade, o Tomo era perfeitamente ortodoxo, mas sua redação era vaga o suficiente para que um nestoriano não tivesse dificuldades em aceitá-lo. O próprio Nestório declarou que o documento expressava exatamente o que ele vinha tentando dizer o tempo todo. Assim, os monofisitas conseguiram caracterizar os ortodoxos como nestorianos e confundir muitas pessoas. Eles usaram o Tomo como um pretexto para o cisma, recusando-se a lidar com a questão central, que era o fato de que o monofisismo, em si, era uma heresia.

4.    Outra heresia, após o Monofisismo, foi o Iconoclasmo. Os Iconoclastas declararam que as imagens eram ídolos e que era proibido pintá-las ou, especialmente, venerá-las. Os Iconoclastas eram muito rápidos em apontar certos abusos relacionados com as imagens; por exemplo, algumas pessoas as consideravam imagens vivas, a ponto de usá-las como padrinhos no batismo! Eles usavam abusos como este para criar uma cortina de fumaça e apresentar a visão ortodoxa como algo que inevitavelmente levava a práticas incorretas. Mas nenhum número de abusos relacionados às imagens poderia mudar o fato de que é uma coisa piedosa representá-las e venerá-las.

Nos nossos dias, os adeptos da Onomatolatria estão se mostrando dignos seguidores de seus predecessores na heresia. Ao tentarem desviar o foco do debate para as expressões do Sínodo Russo, estão evitando a verdadeira questão: qual é a sua própria confissão de fé? Se realmente são cristãos ortodoxos, podem demonstrá-lo de maneira rápida e fácil, aceitando as condenações que a Igreja publicou contra a Onomatolatria. Que proclamem em alto e bom som que o nome de Deus não é uma energia incriada de Deus, mas um símbolo criado, dado a nós pela Sagrada Escritura e pelos Padres, que expressa o inexpressível na medida em que a linguagem humana é capaz. Que denunciem os erros de Bulatovich e os monges iludidos do Monte Athos que o seguiram na heresia. Então, acreditaremos que são, de fato, cristãos ortodoxos e não membros de uma seita herética.

 

Traduzido por Diego Augusto Passareli.

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Pároco da paróquia Axion Estin em Sorocaba e, responsável pela igreja GOC no Brasil, missionário da comunidade São João Maximovich em Curitiba e da Paroquia Nossa Senhora da Proteção na Pedreira -São Paulo SP.

"Sou um sacerdote ortodoxo e busco fiéis comprometidos com a Santa Fé, livres das heresias propagadas por aqueles que a desconhecem ou a deturpam intencionalmente. Como membro da Genuína Igreja Ortodoxa da Grécia, preservamos  fielmente a Santa Tradição e os Santos Cânones, incluindo as decisões dos Santos Concílios que anatematizam as alterações no calendário litúrgico. Seguimos a determinação do Concílio de Niceia sobre o Menaion e o Pascalion, bem como as resoluções dos Concílios Pan-Ortodoxos de 1583, 1587, 1593 e 1848."

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