top of page

Lições oportunas da vida de Santa Maria do Egito

ree

Igreja dos Cristãos Ortodoxos Genuínos da Grécia



Este ano, todos nós estamos atravessando a época da Grande Quaresma sob circunstâncias extraordinárias devido à pandemia do coronavírus. A festa de Santa Maria do Egito sempre nos oferece lições, mas, neste ano em particular, ela nos dá coragem e força para tirar o máximo proveito da situação presente, para que não apenas não soframos danos à nossa saúde mental, mas também colhamos inúmeros benefícios espirituais.

O Santo Apóstolo Paulo e São Tiago, o irmão do Senhor, nos guiam nessa direção:

“...mas também nos gloriamos nas tribulações, sabendo que a tribulação produz paciência; e a paciência, experiência; e a experiência, esperança; e a esperança não nos envergonha” (Romanos 5:3-4).


“Bem-aventurado o homem que suporta a tentação, porque, depois de ser provado, receberá a coroa da vida, a qual o Senhor prometeu aos que O amam” (Tiago 1:12).

Examinemos agora como a festa de hoje nos ensina a aproveitar as dificuldades atuais para nosso benefício espiritual.


1. Embora Abba Zózimo tenha alcançado grande virtude e dons espirituais, ele ainda precisava de mais instrução e perfeição. Por isso, Deus, para ensiná-lo a humildade, o direcionou ao Mosteiro de São João Batista, às margens do Rio Jordão. Se até mesmo São Zózimo, que atingiu tamanha santidade a ponto de receber revelações divinas, necessitava de orientação e aprendizado, como deveríamos nos sentir, cristãos da era atual? Nós, que há pouco deixamos nossos grandes pecados e nos aproximamos da Igreja, muitas vezes imaginamos que já estamos aptos a ensinar o mundo inteiro. A internet e os blogs hoje estão repletos desses “iluminadores” autoproclamados. Aqueles que até ontem caminhavam pelo caminho da iniquidade, hoje querem nos ensinar sobre a Ortodoxia, mesmo sem conhecerem os fundamentos de nossa fé. Irmãos e irmãs, afastem-se dessas pessoas e do que elas escrevem.


2. No Mosteiro de São João Batista, Abba Zózimo conheceu monges virtuosos que mantinham o santo costume de deixar o mosteiro no início da Grande Quaresma para viver no deserto em reclusão, sem contato com outras pessoas, dedicando-se apenas à oração e ao jejum. Hoje, também somos chamados a passar a maior parte da Grande Quaresma fechados em nossas casas, em uma reclusão relativa. Não temos a força para suportar exatamente a mesma ascese, mas podemos imitá-la, ainda que em pequena medida. Se conseguirmos fazer isso, colheremos benefícios espirituais.


3. Esses ascetas passavam toda a Grande Quaresma na hesychia (silêncio, quietude). Quando falamos de hesychia, não nos referimos tanto à ausência de ruído, mas à falta de distração mental. Não é necessário ir para o deserto. Não importa onde vivemos, mas como vivemos. Podemos experimentar esse tipo de hesychia quando nos recolhemos em nossos quartos para orar, como nosso Senhor nos ensina:


“Mas tu, quando orares, entra no teu quarto e, fechando a tua porta, ora a teu Pai que está em secreto; e teu Pai, que vê em secreto, te recompensará publicamente” (Mateus 6:6).

Afastemo-nos um pouco da televisão e do computador; deixemos nossos celulares fora do quarto quando formos orar; e busquemos nos comunicar com Deus sem distrações, tanto quanto possível.


4. Quando São Zózimo encontrou Santa Maria no deserto, ele a viu elevada um côvado acima do chão enquanto orava. Ela o chamou pelo nome, e o Abba, em respeito à sua santidade, pediu sua bênção. Ao mesmo tempo, porém, Santa Maria prostrou-se diante dele, pedindo a bênção de São Zózimo, pois ele era sacerdote.


“Assim, ambos se prostraram no chão, cada um pedindo a bênção do outro.”

Isso ensina, por um lado, os leigos a respeitarem o sacerdócio e, por outro, o clero a reconhecer a virtude dos leigos e a cultivar uma mentalidade humilde.


5. Depois de tantos anos no deserto, Santa Maria perguntou a Abba Zózimo com genuíno interesse: “Como vive o povo cristão atualmente? E os imperadores? Como estão sendo administradas as questões da Igreja?” O Abba limitou-se a dizer que Cristo havia concedido paz a todos e pediu à Santa que orasse por ele e por todo o mundo. Isso ocorreu durante o reinado de Justiniano I. O Imperador Justiniano e sua esposa Teodora levaram uma vida que, nos dias de hoje, seria material para centenas de blogs, e o mesmo poderia ser dito sobre a vida dos cristãos e os assuntos eclesiásticos daquela época, já que os escândalos nunca estiveram ausentes da vida da Igreja. Mas os Santos nos ensinam a não nos ocuparmos com fofocas e palavras desnecessárias, mas sim a direcionarmos nosso discurso para aquilo que beneficia nossas almas.


6. Santa Maria então confessou os pecados de sua vida a Abba Zózimo, ensinando-nos, assim, que mesmo tendo passado quarenta e sete anos no deserto em tamanha ascese e alcançado tal nível de virtude a ponto de ser suspensa no ar enquanto orava e atravessar o rio Jordão como se estivesse em terra firme, ainda assim necessitava do Mistério da Confissão. Se ela, que alcançou tanta santidade, precisava da Confissão, quanto mais nós, que não possuímos virtude alguma ou, no máximo, somos espiritualmente infantis, necessitamos desse Mistério salvífico?


7. Após confessar seus pecados, Santa Maria contou o milagre que a levou da vida de autossatisfação e prodigalidade ao arrependimento. Uma força invisível a impedia de entrar na Igreja da Ressurreição, em Jerusalém, onde havia ido apenas por curiosidade. Assim que chegou ao verdadeiro arrependimento, o obstáculo invisível foi removido e ela pôde entrar na Igreja e venerar a Santa Cruz e o Santo Sepulcro. Hoje, nós também estamos impedidos de participar do culto comum em nossas santas Igrejas. Devemos considerar que talvez essa situação seja resultado de nossos pecados.


Talvez precisemos nos arrepender sinceramente? Talvez não tenhamos valorizado suficientemente nossa presença nos serviços da Igreja e especialmente na Divina Liturgia, antes dessa tribulação? Talvez tenhamos calculado a que horas a Liturgia terminaria para chegarmos apenas pouco antes do final – alguns quinze minutos antes, outros talvez meia hora ou até uma hora antes? E talvez tenhamos ficado impacientes se houvesse algum atraso ou se o sermão fosse um pouco mais longo? Sendo assim, talvez precisássemos ser privados de algumas coisas essenciais para aprendermos a valorizar seu verdadeiro significado? Estas são perguntas que devemos nos fazer. Se mostrarmos verdadeiro arrependimento, os obstáculos serão removidos.


8. Santa Maria conta como, por exortação da Mãe de Deus, foi ao deserto para "encontrar um lugar de repouso", sem se preocupar com a forma como viveria ali, mas confiando plenamente em Deus. E nós? Quantas vezes ouvimos a súplica do Sacerdote celebrante para lembrarmo-nos da Theotokos e de todos os Santos, e para "entregarmos a nós mesmos, uns aos outros e toda a nossa vida a Cristo nosso Deus"? Temos plena confiança em Deus de que Ele não nos abandonará, mas permite cada tribulação, até mesmo as mais difíceis, para o benefício de nossas almas?


9. Enquanto viveu no deserto, Santa Maria foi, por muitos anos, atormentada por pensamentos; recordações pecaminosas, imagens mentais e fantasias de seu passado, instigadas pelo Maligno, tentavam desviá-la de sua resolução de viver segundo Deus. A Santa rejeitou esses pensamentos, desprezou os incitamentos do Maligno e permaneceu firme em sua decisão de seguir um caminho de vida piedoso, demonstrando assim que seu arrependimento era genuíno. Sigamos o seu exemplo.


10. Finalmente, Santa Maria pediu ao Abba Zózimo que retornasse no ano seguinte a um local próximo ao Rio Jordão, trazendo a Santa Comunhão para que ela pudesse participar dos Mistérios Imaculados. Após quarenta e sete anos de intensa ascese, ela não pediu para comungar imediatamente, mas apenas depois de mais um ano inteiro! De fato, no ano seguinte, São Zózimo foi ao Rio Jordão com um Cálice e ministrou a Comunhão à Santa. Naquele mesmo dia, Santa Maria entregou sua alma ao Senhor. Isso nos ensina o grande valor do Mistério da Santa Comunhão, que em nossos dias é tão veementemente atacado pelos ateus e colocado em dúvida pelos de pouca fé. Nós, porém, aprendemos a participar dos Mistérios Imaculados após a devida preparação, seguindo a orientação de nosso Pai espiritual e com a firme fé de que a Comunhão constitui o Imaculado Corpo e o Precioso Sangue de nosso Senhor Jesus Cristo, mesmo que seja necessário esperar um curto ou longo período para comungar, cumprindo uma epitimia dada pelo Senhor para nosso próprio benefício. Ao comungarmos da Divina Eucaristia, tornamo-nos um só corpo com Cristo, bem como com nossos irmãos ortodoxos, e coerdeiros do Reino de Deus.


Pelas intercessões de Santa Maria do Egito e de São Zózimo, que todos sejamos dignos do Reino Celestial, fazendo uso de cada circunstância permitida por nosso Senhor para nosso arrependimento, correção e salvação eterna. Amém!

Comentários


Paróquia Axion Estin 

Alameda Guarujá, 686 - Vila Nova Sorocaba, Sorocaba-SP, Brasil

Pix: 34.330.730/0001-72

Axion Estin Assessoria

 

​Comunidade São João Maximovich:

Rua Anita Ribas ,762  Bacacheri -Curitiba - Paraná - Brasil

Paroquia Nossa Senhora da Proteção na Pedreira 

Rua Mariana Borges, 229, Balneário Mar Paulista, São Paulo – SP

Pix: paroquiaprotecaopedreira@gmail.com

54603304356_f57a95135b_h_edited.jpg

Pároco da paróquia Axion Estin em Sorocaba e, responsável pela igreja GOC no Brasil, missionário da comunidade São João Maximovich em Curitiba e da Paroquia Nossa Senhora da Proteção na Pedreira -São Paulo SP.

"Sou um sacerdote ortodoxo e busco fiéis comprometidos com a Santa Fé, livres das heresias propagadas por aqueles que a desconhecem ou a deturpam intencionalmente. Como membro da Genuína Igreja Ortodoxa da Grécia, preservamos  fielmente a Santa Tradição e os Santos Cânones, incluindo as decisões dos Santos Concílios que anatematizam as alterações no calendário litúrgico. Seguimos a determinação do Concílio de Niceia sobre o Menaion e o Pascalion, bem como as resoluções dos Concílios Pan-Ortodoxos de 1583, 1587, 1593 e 1848."

bottom of page