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Homilia de Nosso Pai Bispo Máximo de Pelagonia na Igreja da Santíssima Trindade, São Paulo, Brasil

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Transcrição: Melina Rigolin Revisão: Elisabete Franczak  Branco


Com a bênção do nosso Bispo Vladyka Gregório, vamos dizer algumas palavras sobre o Evangelho de hoje, e também sobre quem somos e o que estamos fazendo aqui. Vamos começar com um pouco de história. Sabemos que, historicamente, aproximadamente mil anos atrás, o povo russo recebeu a Igreja Ortodoxa dos gregos, com São Vladimir, quando o povo russo se batizou. E durante o curso da história a Rússia produziu muitos Santos porque aceitou a essência da fé Ortodoxa na sua cultura e em toda a vida do povo russo, a ponto de a Rússia receber o nome de Rússia Santa, Svyatáya Rus. Mas o que aconteceu? O diabo mal aguentava a fé, a santificação de tantas pessoas. Ele tinha inveja de que as pessoas estavam se salvando. Então ele criou toda uma situação dentro da Rússia, que culminou na Revolução Comunista, que praticamente destruiu a Igreja Ortodoxa na Rússia e matou milhões de pessoas por causa de sua fé Ortodoxa.


 Mas uma parte da Igreja Russa se salvou: a Igreja Russa da Diáspora. A parte que estava fora da Rússia e que confessava e continuou confessando a verdadeira fé Ortodoxa com as mesmas tradições que o povo russo sempre teve desde o princípio.


O que restou da Igreja Ortodoxa dentro da Rússia fez um acordo com o governo soviético para submeter-se, subjugar-se, completamente ao governo. Isso seria algo errado em qualquer circunstância, porque sabemos que a Igreja sempre deve conservar a sua independência, pois, como disse o Nosso Senhor Jesus Cristo: “Dai, pois, a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus” (Mateus 22:21), não devemos misturar as duas coisas, não devemos dar a César o que pertence a Deus. Mas foi um pedido muito perigoso porque o governo soviético era um governo ateu, e tinha como propósito principal de sua existência a destruição completa da Igreja Ortodoxa. Obviamente, foi um plano diabólico, com o objetivo de exterminar todos os cristãos ortodoxos. A Igreja Russa da Diáspora não aceitou nada disso e continuou confessando a verdade da nossa fé Ortodoxa. Ao mesmo tempo, o diabo atacou também a Grécia de outra forma, porque não existia um governo comunista, não existia uma perseguição direta como existia na Rússia, e trocaram o calendário Ortodoxo para o calendário Católico Romano, que era o primeiro passo para unificar Igreja Ortodoxa e Igreja Católica Romana, também com outras Igrejas do Ocidente, Igrejas que estavam em heresias por muitos anos. Mas uma grande parte do povo grego não aceitou a troca do calendário. Conservaram o antigo calendário, e isso foi o começo da nossa Igreja Grega do Antigo Calendário, da qual eu sou bispo.


E o que aconteceu? Uns bispos da Igreja do novo calendário se arrependeram de sua heresia e passaram para a nossa Igreja. Mas o governo, o Estado Grego, que trabalhava completamente junto da Igreja do novo calendário, começou uma perseguição contra a nossa Igreja. Fecharam nossas igrejas, arrasaram nossos sacerdotes, para que nossa Igreja ficasse sem bispos. Todos os bispos foram mortos e exilados. Mas a Igreja Ortodoxa não pode existir sem bispos porque temos uma hierarquia Divina na Igreja Ortodoxa, e essa hierarquia não é assunto de administração, é de uma ordem Divina para a santificação das almas. São Dionísio, o areopagita, nos explica que a ordem hierárquica que existe na Igreja serve para guiar as pessoas até Deus. Os diáconos guiam o povo, os sacerdotes os guiam mais alto e os bispos, até Nosso Senhor Jesus Cristo. Portanto, a Igreja Ortodoxa não pode existir sem bispos. E Santo Inácio de Antioquia, do primeiro século da Igreja – discípulo direto de São João Evangelista, que, a propósito, é o Santo Padroeiro de nosso mosteiro na Guatemala, onde eu vivo —, disse que: “Onde está o bispo, aí também está a Igreja, e onde está a Igreja, aí também está o bispo”.


E o que faríamos agora que a nossa Igreja Grega do Antigo Calendário tinha ficado sem bispo? Não poderíamos existir assim. Fomos à Igreja Russa da Diáspora e pedimos ajuda, e a Igreja Russa da Diáspora, que tinha o mesmo espírito que a nossa Igreja, a mesma confissão da fé de nossa Igreja, nos escutou, e um bispo foi consagrado para a nossa Igreja. E é assim que a nossa Igreja Grega do Antigo Calendário tem a sucessão apostólica da Igreja Russa. Dessa maneira, podemos dizer que os russos devolveram um favor que os gregos tinham feito há mil anos. E foi assim que nossas Igrejas ficaram em plena comunhão. Mas, depois da união de uma parte da Igreja Russa da Diáspora com o Patriarcado de Moscou, nossa Igreja também ajudou o restante da Igreja Russa da Diáspora na consagração dos bispos. E é assim que a Igreja Russa da Diáspora – esta paróquia –, e a nossa Igreja Grega do Antigo Calendário são uma só Igreja, porque a Igreja Ortodoxa é uma Igreja, como dizemos no Credo: “Una, Santa, Católica e Apostólica Igreja, confesso um só batismo para a remissão dos pecados”.


E é assim que estamos aqui todos juntos, eu e Dom Gregório, com os sacerdotes, diáconos, subdiáconos, todo o clero, todo o povo de Deus, celebrando a unidade de nossa confissão de fé, de que somos Igrejas ou uma Igreja que confessa a fé Ortodoxa, e que sofremos por isso. A maioria de nós tem sofrido pela nossa confissão de fé. Não é fácil confessar algo que o restante do mundo nem sequer pode pensar, porque a mentalidade ortodoxa é completamente diferente da mentalidade do mundo e da mentalidade das chamadas Igrejas Ortodoxas Oficiais. Existe uma diferença em Espírito, na vida, na forma de celebrar, na reverência. E tudo isso acontece por causa da confissão da fé. Se a confissão da fé, da nossa fé Ortodoxa, é correta, então as outras coisas vão seguir, mas se a confissão da fé é errada, o que chamamos heresias, então todo o restante também vai mudar, inclusive a vida das pessoas.


E isso tem relação com a leitura do Evangelho de hoje. O que ouvimos no Evangelho? Sobre um oficial do exército romano que estava na Judeia. Naquela época, Palestina e Israel estavam sob o domínio dos romanos e, obviamente, todos os judeus odiavam os romanos porque eram ocupantes opressores. Esse oficial se aproximou de Nosso Senhor Jesus Cristo para pedir a ele que curasse um servo que estava doente, e disse: “Senhor, eu não sou digno de que entres em minha casa. Mas dize uma só palavra e meu servo ficará curado” (Lucas 7:6). E Nosso Senhor Jesus Cristo disse: “Digo-vos que nem ainda em Israel tenho achado tanta fé” (Lucas 7:9). Recorde que Israel, ou seja, os judeus, era o povo elegido de Deus no Antigo Testamento, mas a maioria dos judeus não aceitava a Cristo, não aceitava a verdade perante os olhos deles, e por isso não tinham a fé correta. Então, Nosso Senhor Jesus Cristo curou o servo. Isso também nos faz refletir sobre o que significa a fé. Porque poucas vezes falamos da fé, falamos apenas da doutrina, de que cremos na Santíssima Trindade, de que cremos nas duas naturezas de Cristo, que são doutrinas da Igreja Ortodoxa, é verdade.


Obviamente, são coisas que devemos crer porque são verdades Divinas. E, às vezes, falamos no sentido de confiar em Deus, que confiamos que Deus tem um plano para nós ou que Deus vai nos ajudar. Muitas vezes, também falamos da fé dessa maneira. Mas a profundidade da fé é infinita porque podemos dizer muito mais coisas sobre a fé do que a maioria das pessoas pensam. Na Epístola aos Romanos, São Paulo disse que a fé é a substância das coisas que esperamos e que é a evidência das coisas que não vemos. Que palavras profundas! E não pensamos no que significa.


Existem tantas ideias erradas sobre o que é a fé. Os ateus dizem que a fé é crer em algo irracional, crer em algo a respeito do que não há evidências ou provas. Mas isso não é fé. Essa ideia dos ateus é tolice. Os protestantes dizem que fé significa acreditar que seremos salvos se crermos em Jesus, que as obras vão seguir se tivermos fé. Isso é verdade, mas tampouco é suficiente. O ensinamento dos Santos Pais das Igrejas sobre o que é a fé é exatamente o que nos disse São Paulo na Epístola aos Hebreus. A fé é substância (algo concreto, algo que podemos tocar, sentir) das coisas que esperamos. E quais são as coisas que esperamos? Esperamos as coisas Divinas, esperamos a fé dos céus, esperamos receber a Graça de Deus.


Se um cristão ortodoxo tem fé verdadeira, que é uma fé viva verdadeiramente, essa fé torna presente as coisas que ele espera. A fé torna presente o mundo espiritual. Se realmente temos fé em Cristo, vamos sentir a presença de Cristo. É comum as pessoas dizerem que não sentem nada, que sentem um vazio, que têm a sensação de estar falando com a parede quando rezam em casa. Isso acontece porque não temos essa fé viva. Se tivermos a fé viva, o que esperamos se faz presente. A fé é como uma força que atrai Deus até nós; e quem tem essa fé sente a presença de Cristo. Essa fé que torna presente as coisas que esperamos é uma evidência das coisas que não vemos com os olhos físicos, a fé que nos faz ver com os olhos da alma, muito mais eficientes que os olhos do corpo. E assim crescemos espiritualmente. Quando sentimos a presença de Cristo, nossa oração se torna viva, e o Espírito Santo desce sobre nós. Então a vida, a mente, a forma de pensar muda completamente.


O Cristão Ortodoxo, que tem uma fé viva, já vive facilmente no outro mundo, já tem gosto pelas coisas que vamos receber no reino dos céus. E, se tivermos essa fé, obviamente as pessoas vão notar, vão notar que somos transformados, que somos diferentes e, vou dizer algo talvez atrevido, que somos santificados.

Os pais da Igreja explicam que existem três degraus da vida cristã, começamos com a purificação da alma e, quando a alma está purificada, recebemos a graça de Deus, que se chama iluminação, e depois disso há quem chegue ao nível da deificação – a graça enviada de Deus nos enche completamente, como lemos na vida de São Serafim de Sarov – e veja a luz enviada de Deus.


Nós, pessoas normais, não temos que pensar em coisas tão elevadas, mas podemos, sim, ter uma fé viva, começando com a confissão correta da fé, porque São Máximo Confessor disse que a confissão correta da fé santifica todo homem.


Nós, os verdadeiros cristãos Ortodoxos que estamos aqui tentando confessar a verdade, que não caem no erro, nas heresias, vamos confessar a totalidade da doutrina Ortodoxa. E isso vai vivificar nossa fé pessoal para sentir a presença de Cristo, para fazer as coisas que esperamos já presentes para que nossa vida cristã seja uma vida real, e não uma vida separada, uma vida de formas externas e vazia, mas uma vida cheia do Espírito Santo. Isso é alcançável, é acessível para cada cristão Ortodoxo, para cada um de vocês.


Então, vamos rezar para Nosso Senhor Jesus Cristo, e que Ele nos conceda essa fé. Como disseram os discípulos: “Senhor, dá-nos fé, acrescenta nossa fé…”. Que boa oração! Se sentimos que não temos fé suficiente, o que muito provavelmente seja verdade, se sentimos que podemos crescer em nossa fé, vamos pedir a Deus que nos ajude nisso. Assim, todos nós, aqueles da Igreja Russa, aqueles da Igreja Grega, que na verdade são uma só Igreja, vamos caminhar juntos até o reino dos céus.


Que Deus os abençoe, a todos vocês !


Quero também agradecer a Dom Gregório por ter me recebido aqui, pela hospitalidade e amizade que tem nos mostrado, apesar de nossa indignidade. Muito obrigado, a Vladyka e a toda comunidade da Igreja da Santíssima Trindade, aqui em São Paulo.

Vamos rezar para toda Igreja Ortodoxa verdadeira na América Latina.

Graças a Deus por tudo e bênçãos para todos.


 


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Pároco da paróquia Axion Estin em Sorocaba e, responsável pela igreja GOC no Brasil, missionário da comunidade São João Maximovich em Curitiba e da Paroquia Nossa Senhora da Proteção na Pedreira -São Paulo SP.

"Sou um sacerdote ortodoxo e busco fiéis comprometidos com a Santa Fé, livres das heresias propagadas por aqueles que a desconhecem ou a deturpam intencionalmente. Como membro da Genuína Igreja Ortodoxa da Grécia, preservamos  fielmente a Santa Tradição e os Santos Cânones, incluindo as decisões dos Santos Concílios que anatematizam as alterações no calendário litúrgico. Seguimos a determinação do Concílio de Niceia sobre o Menaion e o Pascalion, bem como as resoluções dos Concílios Pan-Ortodoxos de 1583, 1587, 1593 e 1848."

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